terça-feira, 20 de outubro de 2015

Programas de intenções e florestas

O País vive ainda hoje na indefinição decorrente dos resultados eleitorais do passado de 4 de outubro. Terá um governo mais à Direita ou mais à Esquerda? Centremo-nos contudo no que pode vir a ser a política florestal em Portugal nos próximos tempos. Tomemos por base as intenções constantes nos programas eleitorais das quatro principais forças políticas, a coligação Portugal á Frente, o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e a Coligação Democrática Unitária.

No conjunto das medidas propostas pelas quatro formações partidárias, das boas intenções, das intenções já gastas pelo tempo e das más intenções, constatamos os seguintes factos:

1.    O termo mais citado é gestão com um total de dez referências;
2.    Segue-se o termo incêndios com um total de seis;
3.    Como seria de esperar, logo após, o surge o termo prevenção ou medidas preventivas com cinco menções;
4.    Com o mesmo número de registos, dois, surgem os termos produtividade e o novo maná certificação;
5.    Para o conjunto dos termos associativismo, cooperativismo, associação, cooperativa e organização (de produtores ou da produção) registamos duas ocorrências. Uma delas menciona a promoção do associativismo. Lemo-la muito ao longo dos últimos 25 anos de profissão, se formos pesquisar registos anteriores, já regista menções mesmo antes de 1974. A outra refere a necessidade de promover a criação de organizações comerciais de produtores florestais. Vem mencionada no programa eleitoral da coligação Portugal à Frente. Curioso, terão levado uma legislatura inteira a aperceber-se dessa necessidade? Bastaria consultar os técnicos, para já não ir aos agricultores e produtores silvícolas.

Só a análise destas ocorrências mereceria vários artigos de opinião. Não vamos contudo seguir esse caminho. Vamos por outro, pelas ausências, ou seja pelo que não regista sequer qualquer menção: os termos rendimento e mercados.


Várias questões se podem colocar.

Os programas eleitorais no que às florestas respeitam versam sobre um país essencialmente de florestas públicas? Mas, não parece ser o nosso caso!

Será consequente aspirar a uma adequada gestão dos espaços florestais (essencialmente na posse de privados), à prevenção de riscos a esta associada e, em consequência, reduzir os impactos causados pelos incêndios rurais e a incidência das pragas e doenças fitossanitárias, adotando apenas o conceito de gestão florestal pela metade? Só na vertente técnica, ignora-se a comercial.

Julgarão as principais forças políticas que os proprietários florestais são cidadãos diminuídos nos seus direitos, logo para submeter a joguetes de interesses financeiros que lhes são cada vez mais externos, e ainda assim conseguir garantir a sustentabilidade dos recursos florestais nacionais? Atenção, a diminuição dos direitos dos proprietários florestais gera pressão sobre os contribuintes.

Será que vale a pena relembrar dados estatísticos básicos, há muito conhecidos, sobre o peso dos proprietários privados, sejam famílias ou sociedades familiares, e das comunidades rurais na área ocupada por florestas em Portugal?

Será que vale a pena insistir na imperiosa necessidade de analisar a evolução dos dados de cariz social, ambiental e mesmo económico sobre as florestas e o mundo rural em Portugal nas últimas décadas?

Considerarão as principais forças políticas em Portugal que é possível salvaguardar a geração de riqueza, o emprego e a qualidade de vida das populações rurais, garantir a sustentabilidade dos recursos naturais e sustentar fileiras silvo-industriais, com o seu peso nas exportações, sem uma intervenção decisiva ao nível do rendimento silvícola e no equilíbrio de forças nos mercados? Das duas uma, ou são tontos, ou querem-nos fazer passar por tontos!