O País vive ainda
hoje na indefinição decorrente dos resultados eleitorais do passado de 4 de outubro.
Terá um governo mais à Direita ou mais à Esquerda? Centremo-nos contudo no que
pode vir a ser a política florestal em Portugal nos próximos tempos. Tomemos
por base as intenções constantes nos programas eleitorais das quatro principais
forças políticas, a coligação Portugal á Frente, o Partido Socialista, o Bloco
de Esquerda e a Coligação Democrática Unitária.
No conjunto das medidas
propostas pelas quatro formações partidárias, das boas intenções, das
intenções já gastas pelo tempo e das más intenções, constatamos os seguintes
factos:
1.
O termo mais citado é gestão com um total de dez referências;
2.
Segue-se o termo incêndios com um total de seis;
3.
Como seria de esperar, logo após, o
surge o termo prevenção ou medidas
preventivas com cinco menções;
4.
Com o mesmo número de registos, dois,
surgem os termos produtividade e o
novo maná certificação;
5.
Para o conjunto dos termos associativismo, cooperativismo, associação,
cooperativa e organização (de produtores ou da produção) registamos duas ocorrências.
Uma delas menciona a promoção do associativismo. Lemo-la muito ao longo dos
últimos 25 anos de profissão, se formos pesquisar registos anteriores, já
regista menções mesmo antes de 1974. A outra refere a necessidade de promover a
criação de organizações comerciais de produtores florestais. Vem mencionada no
programa eleitoral da coligação Portugal à Frente. Curioso, terão levado uma
legislatura inteira a aperceber-se dessa necessidade? Bastaria consultar os
técnicos, para já não ir aos agricultores e produtores silvícolas.
Só a análise destas ocorrências mereceria vários artigos de
opinião. Não vamos contudo seguir esse caminho. Vamos por outro, pelas
ausências, ou seja pelo que não regista sequer qualquer menção: os termos rendimento e mercados.
Várias questões se podem colocar.
Os programas eleitorais no que
às florestas respeitam versam sobre um país essencialmente de florestas
públicas? Mas, não parece ser o nosso caso!
Será consequente aspirar a uma adequada gestão dos espaços
florestais (essencialmente na posse de privados), à prevenção de riscos a esta associada e, em consequência, reduzir
os impactos causados pelos incêndios rurais e a incidência das pragas e doenças
fitossanitárias, adotando apenas o conceito de gestão florestal pela metade? Só na vertente técnica, ignora-se a comercial.
Julgarão
as principais forças políticas que os proprietários florestais são cidadãos diminuídos
nos seus direitos, logo para submeter a joguetes de interesses financeiros que lhes são cada
vez mais externos, e ainda assim conseguir garantir a sustentabilidade dos
recursos florestais nacionais? Atenção, a diminuição dos direitos dos proprietários florestais gera pressão sobre os contribuintes.
Será que vale a pena relembrar dados estatísticos básicos, há
muito conhecidos, sobre o peso dos proprietários privados, sejam famílias ou
sociedades familiares, e das comunidades rurais na área ocupada por florestas
em Portugal?
Será que vale a pena insistir na imperiosa necessidade de analisar
a evolução dos dados de cariz social, ambiental e mesmo económico sobre as
florestas e o mundo rural em Portugal nas últimas décadas?
Considerarão as principais forças políticas em Portugal que é
possível salvaguardar a geração de riqueza, o emprego e a qualidade de vida das
populações rurais, garantir a sustentabilidade dos recursos naturais e
sustentar fileiras silvo-industriais, com o seu peso nas exportações, sem uma
intervenção decisiva ao nível do rendimento silvícola e no equilíbrio de forças
nos mercados? Das duas uma, ou são tontos, ou querem-nos fazer passar por tontos!