Na
altura em que o Ministro Capoulas Santos apela a um amplo consenso em torno da
sua “reforma das florestas”, importa ter em conta o passado recente.
Iniciemos
uma breve análise por 1992, com o Projeto Porter e os “clusters” da gestão florestal
e das indústrias da madeira. Face ao guru da Estratégia Empresarial, que
propunha reformas significativas, até se gerou algum consenso… de curta
duração.
Em 1995,
as mais representativas organizações das fileiras florestais reuniram no Grande
Hotel do Buçaco, em contestação ao desinteresse por parte do Governo de então
sobre as florestas e as indústrias florestais. Exigiu-se até um Alto
Comissário, na dependência do Primeiro Ministro. Foi criado um Conselho
Interprofissional das Florestas. Serviu este empenho para o passo seguinte.
Em 1996,
as Forças Políticas e a quase totalidade das organizações do sector, se é que não
foram todas, envolveram-se na elaboração e posterior aprovação, por unanimidade
no Parlamento, da Lei de Bases da Politica Florestal. De então a esta parte
muita estória correu, a desflorestação agravou-se. O consenso sofreu de amnésia.
Em 2004,
na sequência dos incêndios de 2013, o Parlamento discute em Janeiro desse ano a
“reforma da floresta”. Deu-se consistência legal ao fundo florestal permanente e
criaram-se as zonas de intervenção florestal. O consenso gerado leva a questionar
se o fundo em causa teve impacto na luta contra a desflorestação. Quanto às
zonas de intervenção florestal, de então a está parte, é notória a sua
dependência dos ciclos políticos, com um histórico em “nim”, nem não, mas
também nem sim.
Em 2006,
surge um esforço na regulamentação da Lei de Bases (10 anos após a sua aprovação),
com a elaboração dos planos regionais de ordenamento florestal. Curiosamente,
as suas metas foram suspensas no Governo seguinte, muito embora ambos os Executivos partilhassem
o mesmo Primeiro Ministro.
Nesse
ano, no decurso de um Governo do Partido Socialista, foi igualmente aprovada a Estratégia
Florestal Nacional. Independentemente das suas inconsistências, a mesma foi atualizada
em 2012, desta vez no decurso de um Governo do Partido Social Democrata e do
Partido Popular. Foi na altura evidenciado mais um consenso, pelo menos ao nível do
designado arco da governação.
Mas, eis
que em 2016 surge uma nova “reforma da floresta” e se apela a mais um consenso,
amplo. Pelo caminho não se percebe como se enquadra esta sugestão de consenso
nas anteriores versões de consenso: na Lei de Bases, no que quanto a esta se
pretende fazer; bem como na Estratégia Florestal Nacional. Afinal de contas, qual a relação entre a "reforma" de Capoulas Santos e a Estratégia? Será esta última
para engavetar?
No
essencial, o que importa salientar é a ausência de uma visão de médio e longo
prazo, vai-se recorrendo a uma navegação à vista, todavia, em fase de crescente
desflorestação.
No essencial, as causas do problema são sistematicamente ignoradas, insistindo-se em abordar os problemas pelos efeitos e, sobretudo, pelas suas consequências. As “reformas” surgem sistematicamente desenquadradas de um incontido êxodo rural e dos fatores que o alimentam. Mas, afinal, para que servirá o consenso desta vez? Na sua base estão as inconsistências de sempre, o querer completar um puzzle apenas com parte das peças.
No essencial, as causas do problema são sistematicamente ignoradas, insistindo-se em abordar os problemas pelos efeitos e, sobretudo, pelas suas consequências. As “reformas” surgem sistematicamente desenquadradas de um incontido êxodo rural e dos fatores que o alimentam. Mas, afinal, para que servirá o consenso desta vez? Na sua base estão as inconsistências de sempre, o querer completar um puzzle apenas com parte das peças.
Factos! Desde
1992, quando se iniciou a presente análise, necessariamente breve e com os
riscos desse facto, Portugal tem assumido um crescente destaque, no plano europeu e mundial, no que respeita à desflorestação.
Torna-se evidente, aos olhos do mundo, que os objetivos traçados na Lei de Bases estão em causa, o que coloca em causa a credibilidade da politica florestal nacional e, assim, a sustentabilidade dos recursos florestais nacionais.
Torna-se evidente, aos olhos do mundo, que os objetivos traçados na Lei de Bases estão em causa, o que coloca em causa a credibilidade da politica florestal nacional e, assim, a sustentabilidade dos recursos florestais nacionais.
O
presente apelo ao consenso, amplo, perante este histórico, não pode ser
classificado de outra forma: trata-se de pura e irresponsável demagogia!