Em
Portugal o flagelo dos incêndios florestais parece ser um facto politicamente assumido,
tanto que os Governos insistem em apostar no fomento florestal, em novas
arborizações, descurando liminarmente as práticas silvícolas subsequentes, de
condução cultural, ou seja de uma gestão florestal ativa, racional do ponto de
vista económico e social e ambientalmente sustentável. Tanto é assim que a
curva de área florestal ardida acumulada continua em fase ascendente ano após ano.
Mas
mais, depois de divulgar os números relativos ao desastroso investimento, com
dinheiro público, realizado nos últimos 30 anos com o pinheiro bravo, o Governo
pode agora vir a facilitar, pela mão da ministra da Agricultura, a massificação
em minifúndio de uma outra espécie lenhosa, altamente combustível, o que pode aportar impactos imprevisíveis ao nível dos incêndios florestais. Isto por não
serem salvaguardadas condições mínimas de assistência técnica aos milhares de
pequenos proprietários rurais, como garantia de uma racional gestão florestal,
nem condições mínimas para um adequado acesso aos mercados, onde se registam
indícios de concorrência imperfeita, como meio de garantia de uma rentabilidade
do negócio que potencie essa mesma gestão florestal ativa. Atualmente, a
ausência de gestão racional em minifúndio (explorações em menos de 20 hectares)
não deixa de ser uma resposta à fraca, nula ou negativa expectativa gerada pelo
negócio silvícola.
A
propósito, não deixa de ser curiosa a comparação do gráfico acima com a curva relativa
ao Rendimento Empresarial Líquido (REL) na produção florestal, publicada pelo
INE, nas Contas Económicas da Silvicultura 2010, em junho de 2012.
Claramente,
o INE identifica, na década 2000-2010, um “declínio progressivo” da
silvicultura (produção e exploração florestal), no qual o REL reflete o
comportamento da produção e do Valor Acrescentado Bruto (VAB), revelando uma
situação desvantajosa para os produtores florestais. No VAB, entre 1990 e 2010,
o peso da silvicultura no VAB nacional decresceu significativamente de 1,2%
para 0,4%. O peso das florestas no PIB regrediu de 3,0% em 2000 para 1,7% em 2010.
No
caso do eucaliptal, apesar do significativo aumento de área nos últimos 30 anos
(perto de 100%), a produtividade média anual remonta a 1928, isto apesar dos
desenvolvimentos científicos registados no País nas últimas décadas. Conceituados
investigadores nacionais denotam a existência de indícios de crescente abandono
da gestão destes povoamentos, com especial evidência no período 1992-2005. Curiosamente,
a própria indústria de celulose e papel reduziu as suas áreas próprias de
eucaliptal em mais de 33 mil hectares entre 2002 e 2011. Será indício de negócio
de risco que pretendem transferir para terceiros? O que justifica a redução da
sua capacidade de autoabastecimento, aumentando assim a sua dependência do
mercado nacional e das tão “alarmantes“ importações?
A
campanha protagonizada pela ministra Assunção Cristas de massificação do
eucaliptal em minifúndio tem todos os indícios para se transformar, nos próximos
anos, num aumento do flagelo dos incêndios florestais em Portugal. Mas, o
flagelo será mesmo devido a mediocridade política ou à politiquice ao serviço
de interesses específicos (veja-se a notícia do Jornal I, de 15 de maio de
2012)? A ministra que o diga!