O notícia do Jornal I de
15/05/2012 é muito curiosa. É referido que um investimento de 2 mil milhões de
Euros numa nova unidade fabril, suscetível de criar 15 mil postos de trabalho,
está condicionado ao fornecimento de matéria prima nacional, indicando o valor
de 40 mil hectares de eucalipto. Os números apontados não serão com certeza da autoria
do Jornal, mais parecem vir de um vendedor da banha da cobra.
O investimento é atribuído à
Portucel, a matéria prima pretendida virá então de superfícies florestais, constituídas
ou a constitui, maioritariamente pertença de milhares de famílias. Seria assim
de supor que a empresa estabelece com os seus potenciais fornecedores condições atrativas
que permitissem viabilizar um negócio necessariamente win-win, ou
providenciasse à aquisição ou ao arrendamento da área necessária para a
obtenção, de parte ou do todo, da matéria prima necessária. Todavia, a notícia dá
nota do pedido de ajuda da empresa ao governo.
O governo respondeu imediatamente com uma proposta avulsa de alteração legislativa ao regime de arborização e
rearborização com espécies de rápido crescimento. O processo culminou com a aprovação, em Conselho de Ministros, do Decreto-Lei n.º 96/2013, ainda em apreciação no Parlamento. Por outras palavras, aquilo
que deveria suscitar uma relação de mercado entre fornecedores e um cliente
industrial é alargado a toda a Sociedade.
Curiosamente, se o pedido de
alteração legislativa fosse suscitada pelas milhares de famílias com
superfícies ocupadas por eucalipto, designadamente através das estruturas que
as representem, talvez a iniciativa ficasse numa gaveta governamental. Mas,
como foi quem foi, a resposta foi imediata.
Importa contudo referir que, o
peso da empresa nas exportações ou no PIB é fruto do desempenho e do risco assumidos, cada vez em maior escala, pelos seus fornecedores. Mais, quando o negócio não lhes
permite custear uma adequada gestão, mas os empurra para o abandono das suas
propriedades, o risco passa a ser assumido pela Sociedade. Convém aqui referir que, os preços da rolaria de eucalipto são, há largos anos, impostos unilateralmente pela empresas industriais aos seus fornecedores, as milhares de famílias atrás referidas.
De notar também que, a empresa
que agora reivindica mais área de eucaliptal, está enquadrada num setor
que na última década abdicou da "boa" gestão directa de mais de 30 mil hectares com esta espécie exótica, onde assumia os seus encargos,
encargos esses de que porventura se quis livrar. Os seus fornecedores gerem
mais barato. Cada vez mais barato, tão barato, tão barato que os contribuintes têm sido chamados a intervir.
Isto tudo para dizer que, a
expansão do negócio da empresa deveria sustentar-se em saudáveis relações de
mercado, não no aumento do risco de mais encargos para a Sociedade. Mas, o governo
tem outro entendimento, prefere proteger oligopólios, com risco de maior declínio
para a Lavoura e potenciação de mais encargos futuros para a Sociedade. Sem
negócio lenhícola viável não é possível custear uma adequada gestão
florestal, os riscos de agravamento da propagação dos incêndios florestais tendem a aumentar consideravelmente. Em todo o caso, se e quando tal for evidente os
atuais governantes serão já ex-governantes, todavia os contribuintes cá estarão para
liquidar as contas.