segunda-feira, 16 de março de 2015

O Presidente foi à floresta

O Presidente Cavaco Silva dedicou, no passado dia 11 de março, uma jornada à floresta.

De acordo com o respetivo comunicado da Presidência da República, o Presidente visitou a Herdade da Caniceira, propriedade do grupo Portucel Soporcel. Trata-se de um produtor florestal, todavia industrial, que integra um grupo que representa menos de 6% da floresta nacional.

O Presidente da República dedicou parte da sua jornada, a que efetivamente envolveu a floresta, à visita a uma propriedade de um dos grupos empresariais de base florestal que tem sido beneficiado pela proteção do Poder Político. Até aqui nada de estranho, apenas a confirmação de uma postura a que já nos habituámos, a preservação de interesses mútuos.

O que de facto se estranha é o apelo do Presidente à mobilização dos Portugueses para com a floresta. Mas, a que floresta se terá referido o Presidente? À floresta industrial já de si sobejamente protegida pelas governações? Mas para essa, contra ou a favor, os Portugueses já estão muito bem mobilizados. Exemplo disso são as dezenas de milhões de euros que anualmente, os vários governos, em nome dos Portugueses, têm poupado a este grupo empresarial através da atribuição de benefícios fiscais. Será que o rácio benefício fiscal por posto de trabalho é interessante para os Portugueses, mais ainda num momento em que o desemprego é uma chaga social?


Importa ainda ter em conta o facto dos Portugueses estarem já sobejamente mobilizados para o pagamento dos custos económicos, sociais e ambientais, que alguns estimam em um milhar de milhão de euros anual na última década, e que advém fundamentalmente da sução dos recursos naturais e dos seus detentores por parte de interesses financeiros associados a ologopólios protegidos pelo Poder. Com efeito, os vários governos, o presente em especial, têm permitido que os mercados de produtos florestais funcionem em concorrência imperfeita.

Não haverá nesta jornada muita hipocrisia?

Se era mesmo para dedicar a jornada à floresta, o Presidente da República poderia ter visitado a região do Pinhal Interior, muito degradada económica, social e ambientalmente, mas que em tempos esteve muito associada a um forte apoio eleitoral a Cavaco Silva. Ao que os dados indicam, ter-lhes-á servido de muito pouco.