O Presidente Cavaco
Silva dedicou, no passado dia 11 de março, uma jornada à floresta.
De acordo com o respetivo
comunicado da Presidência da República, o Presidente visitou a Herdade da
Caniceira, propriedade do grupo Portucel Soporcel. Trata-se de um produtor
florestal, todavia industrial, que integra um grupo que representa menos de 6%
da floresta nacional.
O Presidente da República dedicou parte da sua jornada, a que
efetivamente envolveu a floresta, à visita a uma propriedade de um dos grupos
empresariais de base florestal que tem sido beneficiado pela proteção do Poder
Político. Até aqui nada de estranho, apenas a confirmação de uma postura a que
já nos habituámos, a preservação de interesses mútuos.
O que de facto se estranha é o apelo do Presidente à mobilização
dos Portugueses para com a floresta. Mas, a que floresta se terá referido o
Presidente? À floresta industrial já de si sobejamente protegida pelas
governações? Mas para essa, contra ou a favor, os Portugueses já estão muito
bem mobilizados. Exemplo disso são as dezenas de milhões de euros que
anualmente, os vários governos, em nome dos Portugueses, têm poupado a este
grupo empresarial através da atribuição de benefícios fiscais. Será que o rácio
benefício fiscal por posto de trabalho é interessante para os Portugueses, mais
ainda num momento em que o desemprego é uma chaga social?
Importa ainda ter em conta o facto dos Portugueses estarem já
sobejamente mobilizados para o pagamento dos custos económicos, sociais e
ambientais, que alguns estimam em um milhar de milhão de euros anual na última
década, e que advém fundamentalmente da sução dos recursos naturais e dos seus
detentores por parte de interesses financeiros associados a ologopólios
protegidos pelo Poder. Com efeito, os vários governos, o presente em especial,
têm permitido que os mercados de produtos florestais funcionem em concorrência
imperfeita.
Não haverá nesta jornada muita hipocrisia?
Se era mesmo para dedicar a jornada à floresta, o Presidente da
República poderia ter visitado a região do Pinhal Interior, muito degradada
económica, social e ambientalmente, mas que em tempos esteve muito associada a
um forte apoio eleitoral a Cavaco Silva. Ao que os dados indicam, ter-lhes-á servido
de muito pouco.
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