Não, os
palitos não necessitam de ser de madeira de eucalipto, podem ser de choupo, mas
o tema aqui tratado, esse sim é sobre o eucalipto, ou melhor, sobre a mais
recente estratégia da indústria papeleira, ou porventura por esta apadrinhada.
Tem
passado o discurso, por parte de agentes direta ou indiretamente associados à
indústria papeleira de que, dos 850 mil hectares de plantações de eucalipto existentes
em Portugal, 150 mil são bem geridos, os que estão sob a sua posse, sendo que o
problema associado à má gestão, o que arde, está nos 700 mil que estão na posse
de famílias, empresas familiares e comunidades rurais.
Sobre
esta estratégia, ou melhor, sobre esta tentativa de branqueamento de
responsabilidades empresariais, importa colocar um conjunto de questões. A
saber:
Qual a
capacidade de autoabastecimento da industria papeleira, que tem por base os
tais 150 mil hectares de plantações de eucalipto sob a sua posse? Mais de 10%?
Menos de 20%? Na realidade, são altamente carenciados.
Não sendo
a indústria papeleira autossuficiente no abastecimento de rolaria de madeira de
eucalipto, a quem a adquirem para repor a sua carência? Sim, parte é importado,
para exercer controlo sobre os preços da rolaria oriundos da produção nacional.
Mas, e a demais? Vem de geração espontânea? Será que, com esta estratégia de
maldizer, não estarão a cuspir no prato da sopa?
Quem
define o preço da oferta de rolaria de madeira de eucalipto? Existe formação de
preço, decorrente de negociações com a tal oferta dos 700 mil hectares? Entre
que partes? Quem supervisiona? O Ministério da Economia, o da Agricultura,
ambos? Ou o preço é imposto pela procura, pela tal industria que carece dos 700
mil hectares de plantações de eucalipto (até de mais, dizem)? O preço imposto
tem em conta os encargos de uma gestão sustentável nos tais 700 mil hectares,
ou o pessoal pega nos lucros, compra jeeps e vai de férias para o Algarve,
deixando deliberadamente as plantações à sua sorte?
Na
partilha do negócio (que a carência impõe) com os tais detentores dos 700 mil hectares
de plantações de eucalipto está subjacente um serviço de assistência técnica
que permita assegurar adequadas produtividades e um eficiente controlo dos
riscos? Pois, parece que as estatísticas não o comprovam. A partilha é afinal de
desligamento, aliás assumido pela própria associação que representa a indústria
papeleira: “queremos madeira, não queremos terra”. Levam esta estratégia ao
infinito. O mundo começa da porta da fábrica para dentro (tirando os tais 150
mil hectares, mas em fase de expressivo emagrecimento).
Mas,
afinal, se são tão eficientes na gestão dos 150 mil hectares de plantações de
eucalipto sob a sua posse, se apesar deles têm uma forte carência de rolaria de
madeira de eucalipto (choram baba e ranho com as importações), se quem os serve
é mau, porque não multiplicam os tais 150 mil hectares por 5? Teriam a madeira
na quantidade e qualidade pretendida, diminuiriam os riscos para a sociedade,
aumentavam o emprego qualificado e seriamos todos bem mais felizes. Ah, diminuiriam
as verbas para a distribuição de dividendos. Bom, nem sempre e possível ter o
melhor de dois mundos!
Um
bocadinho de vergonha não ficaria nada mal! Já agora, se esta estratégia de
branqueamento for ideia de algum dos vossos gestores de imagem, despeçam-no. Trará
mais problemas do que virtudes.