A ordem pelo qual são apresentados é arbitrária.
1. O
teu mau é pior que o meu, ou a troika matos / pinhal bravo / eucaliptal
A base
do tique aponta para o risco de incêndio se mostrar menor em eucaliptal do que
em pinhal bravo e em matos. Todavia, estão tais dados desagregados por
diferentes modelos de gestão florestal?
Como têm
sido lidos estes dados? Para os adeptos da TINA (There Is No Alternative), a trilogia parece resolver-se com mais
eucaliptal (atenção, não necessariamente melhor), menos pinhal e menos matos
ainda. O decalque com a atual estratégia acionista da indústria papeleira parece
perfeita, substituam-se os matos e o pinhal por eucaliptal. A base para a verdadeira
“campanha do eucalipto”. Mais do que isto só mesmo uma nova “lei das sesmarias”
para penalizar quem não aderir à campanha (a do trigo, dos anos trinta do
seculo passado terá sido ara vender fatores de produção). Sobre os mercados, a
forma como funcionam, o condicionamento do rendimento, logo da gestão e do
efeito no risco, nem um palpite.
Felizmente,
existem (sempre) alternativas, quer quanto ao uso do solo, quer quanto à gestão
das culturas, inclusive dos matos e do pinhal bravo. Curiosamente, o
eucaliptal, pelo modelo de gestão dominante, tem vindo a assumir destaque
preponderante no que respeita a riscos (70% da área ardida em povoamentos
florestais em 2016 corresponde a áreas de plantações de eucalipto).
2. Há
que salvar o emprego
O tique
parece assentar no emprego sustentado pela indústria papeleira no seio do
sector florestal nacional. Curioso, esta estão muito longe de assumir destaque
a este nível.
Sobre o
peso no emprego das diferentes fileiras florestais importa questionar: onde
estavam muitos daqueles que agora reivindicam a importância desta questão
quando, no decurso do declínio do pinhal bravo (e mesmo da subericultura),
centenas de milhares de pontos de trabalho foram extintos, sobretudo ao nível
da indústria?
Mas que
emprego cria a indústria papeleira? Este sector carateriza-se, mais do que
outros, pelos investimentos de muitos milhões (com forte componente pública) para
consolidar “meia dúzia” de postos de trabalho. Não há por aí melhor? Com
certeza que sim!
Exemplos
de emprego na produção papeleira? Dois!
Em 2013,
a Portucel Soporcel Fine Paper, SA teve um volume de negócios de cerca de 1.270
milhões de euros para um volume de empego de 33 postos de trabalho. O rácio de
volume de negócios por posto de trabalho é de 38,5 milhões de euros por
trabalhador, ou seja, muito negócio para emprego residual. O mesmo grupo assumiu
recentemente um investimento em Cacia de 1,2 milões por postos de trabalho a
criar. Bom, com rácios e investimentos deste tipo, para empregar 100 mil
desempregados seria necessário um investimento global de 120 mil milhões de
euros. Atualmente, o número de desempregados ascende a várias vezes 100 mil
pessoas.
Para
falar de emprego no sector florestal, a indústria papeleira não é exemplo a seguir.
Em todo
o caso, importa recordar. Dos 40 mil hectares de eucaliptal exigidos em 2012,
por responsáveis da agora TNC (ex-gPS), para criar 15 mil postos de trabalho, 4
mil hectares já foram criados pelo RJAAR. Onde estão os 1500 postos de trabalho
correspondentes? Andaram-nos a gozar?
3. Deixem
os empresários trabalhar
Este
tique parece assentar no pressuposto de que os empresários sabem o que estão a
fazer e o que possam fazer serve a sociedade. Exemplos do contrário têm sido
mais do que muitos e não se ficam apenas pelo sector financeiro.
Se mais
à esquerda (a dita radical) se chega a falar de nacionalização das celuloses,
mais à direita (mas não em demasia) defende-se a necessidade de intervenção nos
mercados. Quer uma situação quer a outra não aparecem ao acaso. Em todo o caso,
defende-se uma postura mais reformista, de intervenção nos mercados, seja na
escolha das produções, seja na forma como se gerem as mesmas e, necessariamente,
ao nível do funcionamento dos mercados a que estão associadas. Os oligopólios
têm mais desvantagens do que vantagens para as sociedades.
Por
absurdo, das plantações de Cannabis
também se pode obter celulose para a produção de papel, talvez mesmo em maior
quantidade do que nas plantações de Eucalyptus.
Em todo o caso, a ausência de intervenção estatal pode, em ambos os casos,
causar sérias preocupações à sociedade.
4. Nós
somos bons, maus são os que nos alimentam
O tique
parece partir do pressuposto de que os mencionados 150 mil hectares de
plantações de eucalipto na posse da indústria papeleira em Portugal são bem
geridos, sendo que os problemas persistem (e agravam-se) nos demais 700 mil
hectares de eucaliptal que estão sobretudo na posse de famílias.
Bom,
sobre a boa gestão dos 150 mil hectares há que o comprovar (já se lá vai).
Sobre a gestão dos demais 700 mil, fora as exceções, a deficiente gestão é
regra que predomina.
Mas, no
caso em concreto destas últimas plantações, a quem serve a rolaria nelas
produzida? Quem adquire esse produto? Em que condições o faz? Como funcionam os
mercados, qual o peso das partes, alguém domina e a quem? Ora, neste caso, não há
partilha de risco, mas tem de haver partilha de responsabilidades, seja na
depreciação do território, seja nos riscos económicos, sociais e ambientais
causados. Quem adquire material produzido em situação de risco elevado é
conivente com os danos que tal produção possa causar à sociedade.
5. Os
bons exemplos que não o são – a “boa” gestão das papeleiras
Sobre o
tique da excelência da “boa” gestão silvoindustrial por parte da indústria
papeleira existem variados senãos.
Existem,
desde um histórico de suspensão de certificado quanto a uma gestão florestal
sustentável, casos controversos de deposição de resíduos industriais em
plantações de eucalipto, a persistência nos lugares cimeiros de empresas da
indústria papeleira a operar em Portugal a nível de poluição atmosférica e
aquática, incluído a poluição de cursos de água internacionais por emissões oriundas
de unidades fabris de produção de pasta celulósica.