A fazer fé no artigo de opinião do académico e
empresário Francisco Gomes da Silva, publicado no Público a 22 de Novembro
último, sob o título “Eucaliptos, académicos avençados e calúnia inter pares”. o artigo que o mesmo
jornal publicou a 17 do mesmo mês, de título “Manifesto desespero das
celuloses”, da minha autoria, gerou a indignação em alguns dos signatários do Manifesto por uma Floresta não Discriminada
– O Bode Expiatório, publicitado nos principais órgãos nacionais de
Comunicação Social escrita.
Não! Tanto quanto parece essa indignação não respeita
aos factos por mim apontados e omitidos no Manifesto. Designadamente, a
crescente tendência de envolvimento dos eucaliptais na área ardida total e na
área ardida em povoamento florestais nas últimas décadas. Também, parece-se não
ter por base o facto da grande maioria da área de plantações de eucalipto em
Portugal estar sem adequada gestão ou em abandono. Igualmente, essa indignação
parece não assentar no facto do mercado da rolaria de eucalipto funcionar em
concorrência imperfeita, com desequilíbrio na distribuição da riqueza a favor
do duopólio industrial da celulose. O facto produz impactos no rendimento
lenhícola, na gestão e na contenção dos riscos crescentes associados ao
eucaliptal. Nem parecem ter em conta, tão pouco, os crescentes apelos aos
contribuintes (signatários incluídos) para acções de resgate ao Território,
seja no apoio público a acções de replantação de eucaliptal, supostamente
rentável, seja no apoio à reconversão de eucaliptal para outros ussos do solo,
de menor risco social, económico e ambiental.
Sim! A
indignação de alguns dos signatários parece resumir-se à questão que coloquei: Quem
pagou a publicação do Manifesto? Este não viu a luz do dia como artigo de
opinião ou em trabalho jornalístico, mas antes como publicidade? Estou-me a
referir a três páginas integrais, publicadas em vários jornais nacionais e em dias sucessivos.
Provavelmente,
as subsequentes entrevistas a Diogo da Silveira, presidente da associação da
indústria papeleira e gestor da The Navigator Company, designadamente a 19 de
Novembro, até agora sem contraditório, podem dar uma ajuda a contextualizar uma
opinião quanto a uma potencial resposta.
Quanto ao
conceito de “académicos avençados” e ao seu uso, o mesmo corre por conta do
académico e empresário Francisco Gomes da Silva. Não tenho qualquer
responsabilidade quanto a isso. Não seria legítimo invocar que uma alegada
quota para pagar os custos de publicação do Manifesto possa estar alicerçada
numa contrapartida por avença paga pela indústria ou na contratação de um
serviço a uma empresa de um signatário.
Em todo o
caso, o artigo da autoria do académico e empresário Francisco Gomes da Silva
não surpreende. Afinal de contas, o seu desempenho enquanto governante e
difusor de opinião já foi mencionado no livro “Portugal em Chamas – Como
Resgatar as Florestas”, publicado em Junho último. Para os autores do livro não
há dúvida de que o empresário se integra no leque de arquitectos da
eucaliptização de Portugal.
Tenho,
todavia, de manifestar a minha mais profunda indignação:
No Manifesto por uma Floresta não Discriminada
– O Bode Expiatório, os signatários vêm identificados por actividade e,
dentro de cada uma destas, são elencados por ordem alfabética. Curiosamente, no
elenco de académicos são mencionados primeiro, por ordem alfabética, os
integrantes masculinos. Só depois destes, ainda por ordem alfabética, são
identificadas as académicas signatárias. Estará o facto subjacente a uma opção
ideológica?
Há que
destacar o peso crescente das mulheres na Academia em Portugal, bem como a sua
projecção internacional.
NOTA: Francisco Gomes da Silva é detentor de 18,75% do capital social e é actualmente gerente da sociedade comercial por quotas Agroges - Sociedade de Estudos e Projectos, Lda., a qual no seu portefólio constam vários trabalhos desenvolvidos para empresas da indústria de celulose, designadamente:
- “Proposta de Serviços para a Fundamentação da Importância Estratégica Futura do Eucalipto em Portugal e para a Elaboração de um Programa de Apoios Públicos a esta Espécie Florestal no Quadro do PDR 2014-2015”;
- “Estudo sobre o potencial desenvolvimento das culturas lenhosas em superfícies agrícolas irrigáveis”;
- “O Sistema de Financiamento do Investimento Florestal” Plano estratégico para o Desenvolvimento.
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