De há muitos anos que considerei uma virtude
pessoal, muito acima da média, a facilidade com que João A. M. Soares conseguia
traçar uma bissetriz entre posições aparentemente opostas sentadas à volta de
uma mesa. Tive o privilégio de assistir a alguns desses momentos.
Todavia, as últimas intervenções têm-me dececionado.
Um recente comentário quase arrasou esta
minha admiração. È certo que nem todo o vinho tem o comportamento atribuído ao
Vinho do Porto, algum dele azeda com o tempo. Pode também tratar-se de um dia
mau, fica a dúvida.
Em todo o caso, no que a esse comentário respeita,
o Heinrich Himmler não passou de um carniceiro, um interesseiro cão de fila. Já
o dr. Joseph Goebbels, esse sim, teve a capacidade de instrumentalizar as
populaças, com uma metodologia que influenciou outros regimes de vontades próprias,
de quadrantes políticos aparentemente tão díspares como o estalinismo e o
salazarismo.
Mas, o que é importante de facto é que o setor
florestal português é um verdadeiro tigre com pés de barro, onde parecem imperar algumas vontades
próprias, além do mais protegidas por quem deveria zelar pelo interesse comum.
Sendo aparentemente certo que a indústria papeleira
contribui para o reforço do valor bruto das exportações nacionais, a questão é
por quanto tempo isso irá durar, já que o consegue à custa do esmagamento de
outros agentes económicos, sobretudo sobre aqueles que fornecem a matéria prima
básica á sua existência.
Ao invés de uma estratégia de partilha (e não me
refiro a uns apoiozinhos a associações de proprietários florestais - muito tecnocratas e nada comerciais), a
principal empresa da setor industrial papeleiro investe, desde pelo menos à uma
década, numa política egoísta, de reforço das importações e do abstencionismo na gestão florestal.
Infelizmente, a indústria papeleira aposta em matar
a galinha dos ovos de ouro. No futuro, ou reajusta a sua estratégia, ou se
deslocaliza ou definha. Por outro lado, as populações sempre podem migrar (como aliás tem acontecido), mas o Território não se deslocaliza.