sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Estaremos perante um caso de suicídio?

É certo que, por agora, estão em análise apenas os números relativos à primeira fase de candidaturas ao Ensino Superior Florestal, todavia pela redução nos últimos anos da oferta, parece evidente uma capitulação. Nem mesmo as alterações recentemente realizadas nas designações dos cursos parecem salvar a honra do convento.

Os números disponíveis na primeira fase de candidaturas ao Ensino Superior, apontam para o preenchimento de 3 vagas, num total de 20 disponíveis, no curso de Engenharia Florestal e dos Recursos Naturais, do Instituto Superior de Agronomia, na Universidade de Lisboa, de mais 3, do total de 21 em oferta, no curso de Ciências Florestais, da Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e finalmente de 4, numa oferta total de 24 vagas, na Escola Superior Agrária de Coimbra, no Instituto Politécnico de Coimbra. Ou seja, apareceram até agora 10 candidatos para um total de 65 vagas em oferta.

Acresce o facto de, até há alguns anos atrás existirem outros estabelecimentos do Ensino Superior Politécnico com oferta formativa nesta área, que hoje desapareceu por ausência de procura.

Ou seja, o Ensino Superior Florestal parece ter sido acometido da enfermidade que vem assolando as florestas em Portugal: o desinteresse da Sociedade.

Todavia, as Universidade e Instituto Politécnicos têm responsabilidades superiores na atual situação. Ou não têm conseguido ver, ou insistem em não ver, as florestas e a atividade florestal numa perspetiva correta, sendo incapazes de apontar caminhos coerentes para o futuro, ou claudicaram de intervir, quer a nível interno, mas também no plano externo, com destaque para a área da Lusofonia, na valorização do seu papel no desenvolvimento florestal. A apatia não gera credibilidade, não motiva a procura pelas áreas profissionais associadas às florestas.

Depois do desaparecimento de ofertas em Bragança, em Castelo Branco ou em Beja, iremos assistir ao desaparecimento futuro dos cursos lecionados em Lisboa, Vila Real ou Coimbra?

A situação atual das florestas e do setor florestal português evidencia a carência, no terreno e nos centros de decisão, de profissionais com qualificações superiores no domínio da engenharia e das ciências florestais. Mais, no seio da Lusofonia existe uma enorme carência de profissionais neste domínio de intervenção.

A aposta do Ensino Superior Florestal não pode assentar numa estratégia de retirada, no jogar á defesa, ou melhor na defesa passiva, tendo presente que a melhor defesa é o ataque. Em todo o caso, a defesa pelo ataque tem de ter em conta as características associadas à posse das florestas, não é correto remar contra, mas antes remar em conjunto.


As florestas têm de ser negócio, sobretudo em Portugal, onde ela está esmagadoramente na posse de famílias. Nas definições dos contornos dos vários negócios possíveis é fundamental a presença do Ensino Superior Florestal, em especial nas atribuições que detém no domínio da Investigação e Desenvolvimento.

A presença em campo (em sentido lato), mais ainda quando for assegurada a sua visibilidade, é essencial para alterar a procura face à oferta disponibilizada pelo Ensino Superior Florestal. O Ensino Superior Florestal também é negócio, mesmo o Público, mas para garantir negócio há que ser visto.

A Ordem dos Engenheiros poderia ter neste domínio um papel de destaque, mas insiste em assobiar para o lado. Não parece estar à altura do desafio de mudança.

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