À época, o slogan
foi “Mudar Portugal”. Após as eleições de 2011, os destinos das florestas
ficaram sob tutela do autodenominado Partido da Lavoura. Na altura prometeu-se
quebrar os ciclos viciosos, tornar a floresta um setor potenciador de riqueza,
de biodiversidade, de equilíbrio ambiental e de um bom ordenamento do
território.
Para a governação
após junho de 2011, foi considerado indispensável o cadastro rústico, a criação
de um mecanismo de segurança e de controlo de riscos, este último com o apoio
da União Europeia e de um conjunto de seguradoras, bem como o combate ao
abandono da administração das propriedades com superfícies florestais, através
do associativismo, do emparcelamento e da gestão condominial.
Quatro anos decorridos,
o que mudou de facto?
Quanto ao cadastro
rústico, tudo permaneceu como antes, em comissões faz-que-torce e anúncios
de projetos piloto.
Quanto a mecanismos
de segurança e controlo dos riscos, nos agentes bióticos vive-se num caótico
desespero, nos abióticos em função da meteorologia.
O associativismo e
a gestão condominial permanecem dependentes do poder político, da discricionariedade
da torneira dos fluxos financeiros. O emparcelamento é pura letra morta.
Em 2011 e em
consonância, PS e PSD partilharam a aposta no reforço do cluster papeleiro,
o CDS-PP deu-lhe concretização prática na governação. Todavia, concretizou-a à
custa da potenciação de riqueza em meio rural, da biodiversidade, do equilíbrio
ambiental e de um bom ordenamento do território, muito embora fossem estes os
valores a defender, conforme expresso no Programa do XIX Governo
Constitucional, o atualmente em exercício.
Dir-se-á, muito
provavelmente, entre as intenções e a concretização, houve o Memorando de
Entendimento. Nas florestas, especificamente, nem foi o caso.
Não se deveu à Troika
a manutenção da estratégia governativa de protecionismo a negócios financeiros
de oligopólios, talvez bem pelo contrário. Aqui, não houve a prometida mudança,
manteve-se o status quo das últimas décadas, com os resultados
catastróficos conhecidos. Nos mercados, manteve-se a permissão para o seu
funcionamento em concorrência imperfeita, com danos irreversíveis para a
produção, o território e a sociedade, esta última no custeio do grosso dos
encargos desta opção política. A cada vez mais necessária regulação dos
mercados é opção para esconder, ou para, quanto muito, constar em promessa
eleitoral para incumprir.
Se a política de
ajustamento penalizou o funcionamento dos serviços públicos, a opção de
esvaziar a autoridade florestal nacional decorreu da iniciativa do governo
português. A investigação e a extensão, vetores fundamentais à promoção do
investimento nas florestas, ou definha e é uma miragem, respetivamente.
A estratégia do
atual governo nas florestas é definitivamente terceiro-mundista. As florestas e
todos aqueles que dela subsistem mereciam melhor, o País merecia melhor.
P.S.: Não que o cluster papeleiro não tenha lugar em Portugal,
o paradigma do seu negócio, como o de outros clusters,
é que tem de ser alterado, em prol da potenciação de "riqueza, de
biodiversidade, de equilíbrio ambiental e de um bom ordenamento do
território"
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