A revisão da
Estratégia Nacional para as Florestas vem revelar vários anacronismos.
Num país em que mais de 90% das superfícies florestais são detidas
por entidades familiares e comunidades, não será contraproducente elaborar uma
estratégia para as florestas ignorando as legítimas expectativas dos proprietários
e gestores destes espaços?
Será consequente esperar que a produção de bens e a prestação de serviços
tenham por base o financiamento público, a intervenção dos contribuintes, sem um
esforço prévio de correção dos desequilíbrios nos mercados?
Será suficiente o estabelecimento de metas para o associativismo
florestal como garantia de mobilização dos proprietários florestais? Estão as organizações
de proprietários florestais adequadamente dependentes financeiramente dos seus
associados para uma eficiente defesa dos seus legítimos interesses? Ou são
essencialmente financiadas pelo Estado, estando sujeitas à pressão política, quase
sempre não condizente com a defesa de tais interesses?
Será a pressão nos deveres atribuídos pelo Estado aos
proprietários privados, consequente para uma adequada gestão dos espaços
florestais em Portugal? Se sim, estão como se justifica o crescente abandono
dessa gestão?
A estratégia efetiva dos últimos governos tem passado pela proteção ao crescimento da oferta de risco à indústria papeleira, como forma de assegurar a perpetuidade de preços baixos à porta das fábricas
Será consistente uma Estratégia que atribui destaque principal aos
riscos do investimento florestal, à gestão florestal, sem assegurar mecanismos
que garantam a obtenção de receitas para a sustentação da gestão e,
consequentemente, a mitigação dos riscos?
Será exequível uma Estratégia que não assegure meios eficientes e
eficazes de acompanhamento técnico e comercial á propriedade privada e
comunitária, fazendo ainda a ligação à investigação?
Será que, na definição da Estratégia, não só se leu, mas também
interpretou os dados estatísticos sobre as florestas e as atividades que nelas
têm a sua base de produção? Será que souberam interpretar os sinais? Terá sido
tal interpretação independente, ou condicionada por interesses a jusante das
florestas?
Estão-nos a enganar, ou estaremo-nos a enganar?
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