quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Sexo, drogas e… papel

É ideia generalizada que os negócios de sexo e drogas, a par de uns outros mais ou menos legalizáveis, são altamente lucrativos, com rácios de vendas por trabalhador obscenos.


Mas, e no negócio papeleiro? Não deixa de ser curioso constatar o facto de, em 2011, uma empresa do sector papeleiro ter conseguido um dos maiores rácios de volume de vendas por trabalhador em Portugal. Seria interessante compará-lo com os rácios atingidos nos dois outros negócios citados, que passaram, entretanto, a contribuir igualmente para o cálculo do PIB.

Não deixa de ser curioso que a Soporcel Pulp – Sociedade Portuguesa de Celulose, S.A. (posição 111, na listagem das 1.000 maiores empresas em Portugal) tenha atingido um rácio de vendas por trabalhador superior a 200 milhões de euros. Reforça-se: a Soporcel Pulp atingiu em 2011 um rácio de vendas por trabalhador superior a 200 milhões de euros. Não haverá muitos negócios, no planeta Terra, com tão elevada “eficiência”. Talvez só mesmo em offshores ou em negócios associadas a atividades imorais e criminosas.

Nesse mesmo ano, 2011, uma outra empresa do sector florestal português, a Amorim & Irmãos (posição 113) ficou longe sequer os 200 mil euros de vendas por trabalhador, sendo que, em volume de vendas, nesse mesmo ano, só ficou cerca de 4 milhões de euros abaixo da dita Soporcel. No que respeita a volume de emprego, uma declarou acima de 1.000 trabalhadores, a outra apenas… 1 (um) posto de trabalho. Negócios da China? Claramente, de um certo Portugal!

O tratamento em exclusivo do ano de 2001 justifica-se no facto de neste ter ocorrido uma mudança de ciclo político. Fica, no entanto, o desafio de análise de anos anteriores e posteriores, nos quais importa aferir do peso dos vícios associados ao denominado “arco da governação”. Vícios esses que se presumem atualmente em fase de aparente hibernação (isto apesar de um final de outono quente).



segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Dos benefícios fiscais às taxas anti-dumping

No período que medeia entre o início de 2010 e o final de 2014, as empresas do grupo Portucel Soporcel foram beneficiadas diretamente pelos Orçamentos do Estado em mais de 94 milhões de Euros.

Pode-se considerar, mais ainda num país em desflorestação, caso único no continente europeu, que o valor atribuído em benefícios fiscais pelo Estado ao grupo privado daria para o primeiro arborizar 47 mil novos hectares de floresta autóctone, considerando um financiamento público a 100% e um valor de arborização de 2 mil euros por hectare, o que, nalgumas situações e no caso da opção por sementeira, exceda largamente os custos da mesma. Mesmo assim, este esforço representaria menos de 1/3 da perda líquida de área florestal registada no país desde 1995 (na ordem dos 150 mil hectares).


Fonte: Inventário Florestal Nacional

Mas, o pior será se este investimento dos contribuintes portugueses no grupo privado, de justificação muito duvidosa, enquadrável no espírito de uma PPP e concedida num período de grave crise para muitas famílias portuguesas, reverter afinal a favor das autoridades dos Estados Unidos, a serem comprovadas as alegadas práticas imorais por parte do grupo empresarial naquele país.



quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Certificação em desflorestação

Como é possível fazer avançar processos de certificação regional num país europeu (o único neste continente) em internacionalmente assumida desflorestação?

De acordo com a FAO, Portugal é um país em perda de área líquida de floresta nas últimas décadas. Neste contexto, como justificar boas intenções em gabinete perante más evidencias no terreno? Qual o grau de exigência/credibilidade dos sistemas internacionais de certificação florestal perante factos que atestam incúria na gestão de recursos florestais num país?

Processos de certificação individual, ou de grupo em áreas muito específicas do território português ainda pode ser admissível. Agora a certificação florestal da gestão florestal insustentável e a um nível regional, já parece “esforçado”.


A atribuição de certificados numa situação destas como se justificaria? Por ignorância da situação? Obviamente, não! Com base em premissas inscritas na Estratégia Florestal Nacional? Qual tem sido o grau de cumprimento histórico das metas nela inscritas? Por aqui, também parece pouco aceitável. Na senda de servir interesses a jusante das florestas? Aqui, a probabilidade é cada vez mais discutível. Não basta ser sério… e há quem tenha dúvidas que o sejam.