Logo
à partida, merece destaque um événement
parallele anunciado pelo Primeiro Ministro, o estabelecimento de uma
parceria público privado de sustentação, pelo Orçamento, de um negócio privado
estabelecido entre uma oferta em perda e uma procura protegida pelo regime.
Com
efeito, a intervenção pública, anunciada em 18 milhões de euros para a fileira
papeleira, parece decorrer de uma necessidade dos contribuintes terem se socorrer
os grupos industrias deste sector. Isto face a uma posição prepotente destes
últimos e, perante isso, do sinal de desprezo demonstrado pela oferta. Não
parece haver outra justificação, face ao protegido duopólio industrial, para a
resposta ao tipo de gestão das plantações de eucalipto em Portugal, onde se
evidenciam extensas áreas em que o coberto, a densidade e a idade dessas plantações
não condizem com uma gestão ativa, profissional e sustentável. Sinal dessa
gestão de risco é a incidência dos incêndios sobre tais plantações que, em
2017, atingiram uma fasquia na ordem dos 70% do total de áreas ardidas em
povoamentos florestais (considerando aqui que as plantações com esta espécie
exótica invasora se enquadram no conceito de povoamento florestal, nem todos as
reconhecem assim).
Na “reforma”
propriamente dita e nos anúncios públicos do ministro da Agricultura, tudo
parece apontar para aposta em negócios bio: de bioenergia e de biocombustíveis.
Será que
a “reforma”, nas entrelinhas, se traduzirá em mais negócios fabris “justificados”
na utilização de resíduos de biomassa florestal residual? Esta é já uma velha “luta”,
mas os resultados têm sido desastrosos.
No caso
da bioenergia, como serão ajustados tais negócios com os custos de concentração,
extração e transporte de resíduos de biomassa florestal residual? Decorrerão de
mais um apelo aos contribuintes, ou serão os consumidores a sofrer um
agravamento dos custos de energia? Importa esclarecer!
Quer na
aposta em bioenergia, quer em biocombustíveis, esta última outra história
antiga e de resultados pífios, quais os modelos de exploração a adotar em tais
negócios que garantam um não agravamento da delapidação dos solos, bem como de
não agravamento ou mesmo de combate à desflorestação?
Até
hoje, a justificação de valorização de resíduos de biomassa florestal residual
tem-se traduzido numa gestão de muito duvidosa sustentabilidade dos espaços
florestais.
Servirão
tais negócios para continuar a “erradicar” áreas de produção de lenho,
sobretudo de pinhal? É que não se vislumbram investimentos de melhoria da
gestão ou de reflorestação das áreas abrangidas pela valorização de resíduos de
biomassa florestal residual, nem da parte da oferta, muito menos da procura por
tal “matéria prima”.
O
negócio dos biocombustíveis, de acordo com o histórico em Portugal, não
constituirá mais um negócio de mera captação de fundos públicos para estudos e
projetos piloto? Existem estudos de viabilidade técnica (sobretudo na
componente florestal) e financeira que possam ser tornados públicos? Basear um
negócio neste domínio na justificação de valorização de resíduos de biomassa
florestal residual é muito curto, demasiado curto. Não haverá troncos à mistura
nas necessidades de abastecimento fabril?
Para já,
esta aposta bio suscita, isso sim, elevados e justificados receios de
agravamento da desflorestação em Portugal. Esta situação de desflorestação,
caso único na União Europeia, para além de nos dever envergonhar, deveria
sobretudo gerar uma elevada preocupação face às graves perspetivas de incidência
das alterações climáticas no país. Neste domínio, tudo indica que vamos
precisar de mais árvores, de mais e melhores florestas, não de desflorestação.
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