A relação do atual governo com a indústria papeleira é paradoxal: no
programa do governo anuncia-se austero, em operação aparenta ser servil.
Assim:
- Depois da indústria papeleira ter reduzido, em mais de 30 mil hectares, a área própria de eucaliptal na última década, apostando ainda mais no fornecimento a partir de plantações de risco de terceiros, de baixa e muito baixa produtividade; e,
- Depois da indústria papeleira ter desmantelado parte significativa dos seus centros de investigação, onde os estudos para a melhoria da produtividade eram centrais,
Eis que o governo põe os cidadãos a compensar essa redução de custos da
indústria, com a “oferta” de € 18.000.000 para aumento a produtividade do
eucalipto. Mas, essa preocupação não deveria caber ao sector privado? Vai-se
dispor do Orçamento para esse efeito (mesmo que se recorra a fundos comunitários,
aos contribuintes europeus)?
Não basta a oferenda, por todos nós, de partes significativas de fábricas
de pasta e papel, ou a dispensa de cobrança de elevados montantes em impostos?
Basta analisar as listas de entidades beneficiárias publicadas pela Autoridade
Tributaria e Aduaneira entre 2011 e 2015 (antes de 2011, tais listagens eram
mantidas em gavetas ministeriais), para atestar das muitas dezenas de milhões
de euros que o Estado prescindiu de cobrar para benefício dos grupos
papeleiros.
Será esta prática governativa decorrente da preocupação em garantir fluxos
na distribuição de dividendos aos acionistas dos grupos papeleiros?
E, já agora, quanto à poluição, agora produzem-se diplomas legais à vontade dos
poluidores? As celuloses ocupam os primeiros lugares dos rankings de poluidores nacionais, seja com emissões para a atmosfera, seja para o meio aquático!
E quanto aos mercados da rolaria de eucalipto, persistirá a lei dos "mais forte"? Vai manter-se o apelo ao crescimento de uma oferta de risco, para manter preços baixos à procura? Vamos continuar a proporcionar futuros verões quentes (e não só verões)?
Estranha forma de… Socialismo!
Tudo isto dá um (triste) fado.
Sem comentários:
Enviar um comentário