Num recente artigo
de opinião, publicado num diário do grupo Cofina, João M.A. Soares vem a
público apresentar argumentos contra a “grande reforma da floresta” do ministro
Capoulas Santos.
O que fica visível no artigo?
Por um lado, a necessidade que a indústria papeleira teve, tem e continuará
a ter da capacidade argumentativa e da empatia de João M.A. Soares. Disso
parece que não restam dúvidas. Aliás, quando trazem a público outros porta-vozes,
facilmente se vislumbra essa necessidade.
Por outro, a incapacidade do ministro Capoulas Santos em gerar consenso na
área florestal. De facto, não é fácil agradar, mais ainda nos dias de hoje, simultaneamente,
a “gregos” e a “troianos”. Importa esclarecer que, no artigo em questão, nos
dois pontos aludidos, movem-nos posições diametralmente opostas.
Todavia, estes são aspetos acessórios!
No essencial, o que ressalta do artigo, a par de um outro
de Francisco Gomes da Silva, é a defesa da continuidade da expansão no país de
uma oferta de risco. De uma expansão em quantidade da área de plantações de
eucalipto (que, reconheceu João M.A. Soares, em 2006, ser a 5.ª maior a nível
mundial), sem garantias evidentes de acréscimo de qualidade e com riscos
crescentes, seja a nível ambiental, social e económico. Aliás, importa ter em
conta que a aprovação deste tipo de investimentos, pelo ICNF, é desprovida de
uma análise financeira e de uma análise de risco, entre outras.
Na base destas intervenções públicas, não nos tentem “embebedar”, está apenas
o intuito de garantir a perpetuação de preços baixos da rolaria à indústria
papeleira, numa estratégia que, a par de manter lesada a oferta. envolve também
a intervenção em perda dos contribuintes, do Território e das futuras gerações.
Se o argumento é o peso nas exportações, no seu valor bruto, fica o desafio
à indústria papeleira de expressar em público qual o valor líquido que atribui
às mesmas. Ou seja, qual o valor real deste subsector na economia depois de
deduzidos os encargos, entre outros, com as importações de material lenhoso para
a produção de pasta e papel, com os incêndios que afetam, de forma cada vez
mais expressiva, as plantações da espécie exótica associada à sua atividade, sejam
os custos imediatos, sejam os subsequentes, ainda com a carga poluente
associada às unidades fabris desta indústria, seja nas emissões para a
atmosfera, seja nas emissões para o meio aquático (a situação no Tejo é atroz,
a presença destas unidades no ranking nacional a este respeito é elucidativo),
ou com a dedução dos muitos milhões de euros, em apoios diretos e indiretos,
que grupos empresariais deste sector auferem anualmente a partir do Orçamento
do Estado.
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