A atual
direção política do Ministério da Agricultura, detentora do pelouro das
florestas, pratica para este setor uma estratégia ultrapassada, constante de um
programa eleitoral de uma outra organização partidária, cuja proposta para o País
foi rejeitada pelo voto em 2011. Essa estratégia passa pela proteção do negócio
financeiro da indústria papeleira, até ver ao nível dos mercados, com a permissão
da concorrência imperfeita e da transferência do risco do negócio para os
contribuintes. Mas, no futuro próximo, pode passar também pela “aposta na floresta irrigada em zonas de regadio
subaproveitadas (criadas com os nossos impostos para a produção de alimentos),
para a garantia do aumento da matéria-prima para a indústria da madeira e da
pasta de papel”.
No
programa eleitoral do partido que lidera o Ministério da Agricultura pode ler-se:
“É tempo
de quebrar os ciclos viciosos que persistem na nossa floresta (fracionamento,
gestão, incêndios e doenças). Assim, o fracionamento que leva ao abandono só
pode ser contrariado através do associativismo florestal, do emparcelamento
funcional e da gestão coletiva (gestão condominial): é preciso redinamizar as
ZIFs com consistência e atratividade.
O cadastro florestal é
indispensável e tem que ser feito. É preciso criar um mecanismo de segurança e
de gestão de riscos, com o apoio da União Europeia e em conjunto com as
seguradoras, para reduzir substancialmente os riscos de incêndios florestais.
Finalmente, tem que se fazer do declínio dos povoamentos suberícolas e do
combate ao nemátodo do pinheiro verdadeiras prioridades.
O
potencial do setor florestal está claramente subaproveitado e é inaceitável o
grau verdadeiramente residual de aproveitamento das medidas do PRODER para a
floresta.”
Bom, todos já sabemos: palavras leva-as o vento. Voltaremos proximamente a uma análise mais profunda das propostas
populares de 2011.
Mas, esta aposta do “partido da
lavoura” na rolaria de eucalipto favorece os produtores florestais e o País?
- Com a imposição (protegida) dos
preços unilateralmente pela indústria, levantam-se sérias dúvidas. Dúvidas
essas sobre se o negócio proporciona receita que permita custear uma adequada gestão
florestal, que permita ir para além do modelo da gestão de abandono. Em si,
esta é uma forma de gestão florestal, em parte significativa das situações a
que se tem mostrado mais adequada à real expetativa do negócio. Isto, em
especial, em regiões de minifúndio.
- Com uma aposta na quantidade de área
(já a 5.ª maior do mundo), ao invés de uma aposta séria na qualidade, as dúvidas
estendem-se já aos riscos para os contribuintes (na propagação de incêndios e
na proliferação de pragas e doenças)
Se a cultura, gerida de forma
sustentável, é uma mais valia para o País, então porque ficar pela produção de
rolaria para pasta celulósica? Porque não estender as possibilidades de uso a
outros produtos, até de maior valor acrescentado para a lavoura? Não seria isso
que se esperaria do autointitulado “partido da lavoura”? Porque não a utilização
sustentável do eucalipto para a produção de madeira para serração? Com certeza
isso poderia ter impacto na redução das importações de madeira, bem como
poderia potenciar o negócio da indústria das madeiras e mobiliário, que afinal
exporta mais em valor do que a indústria papeleira. Emprega muito mais também,
sobretudo em meio rural. Se existe a possibilidade do uso sustentável da biomassa
de eucalipto para a redução das importações de combustíveis fósseis, porque não
recorrer também a esta possibilidade, sabendo que o País tem uma elevada dependência
energética do exterior.
O partido da lavoura afinal parece não
gostar do eucalipto, mas evidencia gostar da pasta celulósica produzida a
partir da rolaria de eucalipto. Não de mobiliário de cozinha a partir do eucalipto,
não de madeira de construção a partir do eucalipto, não de biomassa de
eucalipto, mas apenas e só da pasta.
O “partido da lavoura” e também “partido
dos contribuintes” fomenta afinal uma política florestal que acentua o declínio
da primeira, potencia os riscos a serem liquidados pelos segundos e valoriza o
negócio financeiro de sucção das “celuloses”. Não se deveria assim
autointitular por “partido da pasta”?