domingo, 4 de maio de 2014

As campanhas de caracacá

A ministra Assunção Cristas tem marcado o seu consolado por campanhas de efeitos duvidosos. Do apelo ao voluntariado aos encontros eruditos, peca todavia pela ausência do essencial.

O país é caraterizado por ter a maior proporção mundial de área florestal na posse de privados, esmagadoramente famílias. Assim, para ser consequente, qualquer campanha de promoção das florestas, da gestão florestal, da diminuição dos riscos, tem obrigatoriamente que contar com a participação ativa destes agentes.

Todavia, para ser consequente e motivar as famílias e comunidades rurais detentoras da quase totalidade das superfícies florestais em Portugal, a ministra tem de centrar as suas campanhas num elemento decisivo: a melhoria do rendimento da atividade florestal.

Aliás, o pêpezinho nacional teria muito a aprender se visionasse algumas das iniciativas que, neste domínio, o seu congênere (em nome) além fronteira tem desenvolvido.

Mas aí é que está o problema de base. A ministra não tem primado pela defesa dos interesses da Lavoura (nem dos contribuintes), ao contrário das promessas eleitorais do seu partido. O rendimento silvícola não tem merecido o seu interesse. Persiste em não querer acompanhar os mercados, em permitir posições dominantes, em consentir uma concorrência imperfeita. Contraria inclusive, a respeito da concorrência, o disposto no guião para a reforma do Estado, coordenado pelo vice-primeiro-ministro é líder do seu partido (ver pág. 60 do documento).


Tem, pelo contrário, sido a obreira da defesa de interesses específicos, de fileiras silvo-industriais concretas. É neste domínio que se insere o DL 96/2013, cujo único objetivo visível é a manutenção à perpetuidade de preços baixos junto dos produtores de rolaria de eucalipto. A aposta na massificação de área, ou seja no aumento descontrolado da oferta, em especial em áreas de minifúndio, de elevadíssimo risco portanto, tem por objetivo assegurar os preços que mais se ajustam aos interesses industriais.

Convirá contudo ter presente que, ao contrário do território, as industriais são suscetíveis de deslocalização (mesmo depois de terem usufruído de vantajosos benefícios fiscais). O país pode assim correr o risco de estar a fomentar mais potenciais pastos para chamas.

Curiosamente, do lado das organizações de produtores florestais, não estando dentro do “sistema”, esperar-se-ia uma maior visibilidade nas suas preocupações pelos interesses dos seus associados: o aumento dos rendimentos na atividade silvícola. Não se têm contudo constatado consequentes intervenções neste domínio. Porquê?