sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O fisco, o verde e os treinadores de bancada

Esteve em consulta pública o anteprojeto de reforma da fiscalidade verde, documento elaborado por uma comissão nomeada pelo ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia e pelo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.

Quem nos enganou para conseguir os seus intentos, merece séria desconfiança. Mas, sejamos tolerantes e concedamos um mínimo de crédito à iniciativa do governo, a da reforma da fiscalidade verde. Em matéria de impostos, talvez esta iniciativa não seja apenas mais um atirar de areia para os olhos. Salvo opinião mais avalisada, talvez esta reforma tenha mesmo um impacto nulo no conjunto da elevada carga fiscal que hoje é suportada pelos contribuintes em Portugal. Talvez as preocupações de base se enquadrem mesmo em matéria de Ambiente e não seja esta iniciativa uma mera ação de mitigação de impostos.

Dando assim algum crédito à iniciativa, analisemos o verde, em concreto o verde real, ou seja, a incidência deste anteprojeto sobre as florestas.

No domínio da fiscalidade sobre as florestas, a douta comissão tinha duas hipóteses, ambas válidas, a costumeira de ignorar a importância económica, ambiental, social e territorial das florestas, ou a de consultar toda a informação hoje disponível, quer no domínio interno, quer europeu e internacional, sobre os impactos da política fiscal nas florestas e na atividade florestal. Infelizmente, não foi isso que aconteceu. A douta comissão, em matéria de florestas, revelou ser constituída por meros treinadores de bancada. Além do mais, a misera proposta que consegue produzir suscita sérias dúvidas quanto à sua aplicabilidade. Em termos práticos porque ainda se desconhecem, em parte significativa do território nacional, os sujeitos passivos alvo da sua proposta. Em termos teóricos, porque aparece em contraciclo com o disposto, em matéria fiscal, na Lei de Bases da Política Florestal. Treinadores de bancada é certo, mas também é certo de que nem conhecem minimamente os “jogadores” em campo.


Todavia, não surpreende este desempenho, Não é a primeira vez que envolvidos nesta iniciativa governamental foram chamados à atenção, por treinadores de campo (não é o meu caso), sobre erros de análise em matéria de florestas. Com efeito, o presidente desta comissão, presidiu antes a estruturas de análise temática que se pronunciaram deficientemente sobre as florestas, isto na Plataforma para o Crescimento Sustentável, uma organização cívica, na altura presidida pelo atual ministro Jorge Moreira da Silva, o ministro que se insurge contra os treinadores de bancada (declaração de 29 de julho último). Eu também não aprecio os treinadores de bancada.