No final do regime
ditatorial, o eucalipto ocupava em Portugal uma área próxima dos 200 mil
hectares (IFN 1968/1980). No início da década de 90, a área ocupada por esta
espécie pouco ultrapassava meio milhão de hectares (IFN 1990/92). Passados 40
anos, a área ocupada por esta espécie vai já a caminho de um milhão de hectares.
Da quarta posição em
área por espécie florestal nos anos 70/80, o eucalipto ocupa agora em Portugal o
primeiro lugar, bem destacado das demais espécies silvícolas.
Atualmente, Portugal detém
a quinta maior área a nível mundial ocupada com plantações desta espécie.
Plantações de eucalipto no mundo
Fonte: Florestas e eucaliptos –
mitos e realidade; João A, Soares, Grupo Portucel Soporcel, 2006
Quanto à
produtividade média anual, apesar do conhecimento que tem sido produzido e das técnicas
atualmente disponíveis, não é registada hoje um valor superior ao registado há
40 anos atrás.
Em termos globais, a
aposta nacional nesta espécie foi concretizada em quantidade de área, não em qualidade
por área.
Poder-se-á pensar que
a aposta decorre de uma favorável evolução dos preços pagos à produção de
rolaria de eucalipto à porta da fábrica. Todavia, no que respeita a essa
evolução, tendo por base o ano de 2004, em 1975 registava-se um valor próximo
dos 80 euros por metro cúbico, atingindo-se um valor máximo de cerca de 100
euros no início da década de 90, altura a partir da qual o preço regrediu para
o valor de cerca de 50 euros registado em 2005. Os dados mais recentes,
publicados pelo INE, apontam um valor em 2012 ligeiramente abaixo do registado
no ano 2000.
Evolução do preço da rolaria de
eucalipto 1975/2005
Fonte: Estratégia Nacional para a
Floresta; ICNF, 2014
A aposta em quantidade
de área está assim associada a uma estratégia de controlo de preços em baixa.
Em todo o caso, têm
sido evidentes os acrescidos nos preços das despesas correntes da atividade
silvícola, seja nos serviços prestados à produção, na energia e lubrificantes e
nas plantas.
O efeito da evolução
dos preços face às despesas na produção de rolaria de eucalipto é bem visível
no gráfico seguinte, comparando apenas o conjunto de oito anos, entre 2003 e
2011.
Fonte: Olhos nos Olhos: Causas e
consequências dos incêndios TVI24, 2013.
Em termos de procura,
das quatro empresas industriais com atividade no final da década de 90,
passou-se para apenas duas, sendo que uma delas é responsável por quase 80% da
procura atual.
Apesar de ser difundido como um bom
investimento florestal, o facto é que a área de autoabastecimento de eucalipto
para a indústria papeleira tem vindo a diminuir significativamente. Só entre 2002
e 2011, a área de eucaliptal na posse das empresas de celulose regrediu mais de
33 mil hectares. Não se trata de substituição de área menos produtivas por
áreas de maior produtividade, antes sim de desinvestimento.
Fonte: Boletim Estatístico 2011.
CELPA, 2012.
Melhor será dizer que, a transferência
se reflete apenas no risco, que passa da indústria papeleira para as centenas
de milhares de proprietários privados.
Curiosamente, os dados aqui expressos,
concretamente os que influenciam os rendimentos da produção florestal, não têm
merecido tomadas de posição por parte das organizações que a representam, nem
tão pouco das autoridades políticas. Tudo parece pois ir bem, quer na
estratégia política, nos mercados da rolaria de madeira de eucalipto, na gestão
dos eucaliptais em Portugal, no desenvolvimento rural e no ordenamento do
território.
No que respeita às florestas e ao
setor florestal, sabemos os que as estatísticas refletem nestes últimos 40
anos: Seja na área global de floresta, seja no rendimento dos proprietários florestais, seja no emprego rural e
setorial, seja no êxodo rural, seja na evolução do peso económico das
florestas, ou do peso do setor no PIB, ou na propagação dos incêndios e na proliferação
de pragas e de doenças.
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