Antes de mais, por
alguma experiência que tive no planeamento e na operacionalização deste tipo de
eventos, importa reconhecer que coordenar 600 participantes numa ação de
plantação de 20 mil árvores na serra do Caramulo, como aconteceu no passado dia
18, não é para qualquer um. Estão de parabéns os organizadores.
Em todo o caso este
não é um espaço para louvores. É sim deliberadamente um espaço de denúncia e contestação.
A ministra da
Agricultura associou-se à iniciativa, mas não haverá nisso uma evidência de
hipocrisia?
Em causa esteve a plantação, por voluntários
de 20 plantas de espécies autóctones. Todavia, com um simples diploma anunciado
desde maio de 2012, a ministra está a incentivar a plantação de 40 mil hectares
com uma espécie exótica. Considerando uma média de 1.200 árvores por hectare,
falamos de 48 milhões de eucaliptos, ou seja 2.400 vezes o que foi agora plantado
no Caramulo.
Não, o presente argumentário não é
xenófobo. Não é contra o eucalipto. Nem é sequer contra a monocultura. Mas, é
seguramente contra a monocultura de risco. Aquela que a ministra pretende
disseminar pelo minifúndio, sem garantias de rentabilidade aos produtores, logo
de gestão florestal duvidosa, que mais não serve como garantia de preços
baixos, à perpetuidade, à indústria papeleira, a que encomendou o diploma à
ministra em anúncio público de maio de 2012, a mesma a quem a ministra garante
proteção, permitindo que os mercados funcionem em concorrência imperfeita.
Se em 2003 a receita da venda de 1 m3 de rolaria de
eucalipto permitia a aquisição de 107 litros de gasóleo agrícola, em 2011
apenas permitia a compra de 55 litros.
Ou seja, a ministra nem defende a
lavoura, sabe do desequilíbrio nos mercados e não atua, pior vende falsas
rentabilidades; nem é amiga dos contribuintes, os que terão de pagar os
desaires desta estratégia. Os incêndios florestais produzem avultados encargos
sociais, ambientais e económicos ao País. Lembrar-nos-emos disso incansavelmente em 2015.
Importa contudo esclarecer a ministra e
os mais desatentos que, o esforço que realizou na plantação de uma árvore é um
passo simples e com um grau de dificuldade mínimo face ao que se segue. As dificuldades
para os proprietários florestais começam aí, mas agravam-se depois ao longo do
ciclo de explorabilidade da árvore. Desde logo, com as inconsistentes e
inconsequentes políticas, com os aumentos dos encargos nos consumos intermédios,
com o decréscimo dos rendimentos, com os elevados riscos que estão longe de ser
contidos, com a postura egocêntrica dos negócios financeiros na indústria, com
a proteção desta pela governação.
Ou seja, aparece a ministra para a
fotografia a plantar uma árvore de espécie autóctone, mas na realidade fomenta
a monocultura de risco.
(Título do Jornal I de 15 de maio de 2012)
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