São profundamente irritantes os discursos populistas
e as práticas protocolares protagonizadas por vários políticos e governantes da
praça, de diferentes quadrantes ideológicos, que definem as florestas como o
lugar ideal para "ocupar" os menos favorecidos da sociedade.
O que estará na base destas afirmações e
práticas?
Considerarão os políticos que as florestas são
o local ideal para "castigo" pela condição de desfavorecido? Incluem
aqui os desempregados, outros beneficiários de apoios sociais, os reclusos, e
agora os refugiados e migrantes. Á falta de outra opção, parece que os políticos
consideram as florestas locais suficientemente agressivos (a Natureza é rude)
para lhes dar ocupação. A coisa pode render votos. Mas é sistematicamente
inconsequente.
Considerarão eles que o trabalho em floresta
e tão "desprestigiante" e simples que qualquer um tem condições para
o executar? Tudo indica que sim. Mas é claro, só por simplória ignorância.
Vejamos o caso “simples” da limpeza das
matas. Será como limpar o pó nos móveis lá de casa (se é que o limpam)?
Em poucas linhas. Quando os políticos pensam
fazer intervir pessoas sem qualificações adequadas em operações de limpeza de
espaços florestais, estarão a considerar envolve-las em limpezas
intraespecíficas, interespecíficas, por métodos manuais, motomanuais, com
recurso a maquinaria pesada, por métodos químicos ou com recurso ao fogo? Neste
último seria hilariante, seria uma “limpeza” dois em um. Afirmação pouco séria
esta última? Com toda a certeza, mas tão pouco séria quanto os discursos e as
práticas protocolares populistas sobre as florestas.
Mas há mais sobre o tema.
As florestas ocupam áreas essencialmente
privadas. Logo, seria expectável que o rendimento e os encargos da sua gestão
respeitassem aos privados detentores desses espaços. Os negócios que envolvem bens
de base florestal ocorrem entre entidades privadas, da produção e da indústria,
deveriam gerar receita para uma adequada gestão florestal. Então por que razão
somos sempre chamados a compensar (nós os demais cidadãos) as ineficiências destes
negócios? Porque uma das partes, a par de nós todos, perde sistematicamente
nessa relação negocial. Mas há quem ganhe sempre e por imposição. Posição esta
de força protegida pelos mesmos políticos que fazem os tais discursos populistas
sobre as florestas e a ocupação nestas dos desempregados, dos beneficiários do
RSI, dos reclusos, dos migrantes e refugidos. Quem paga? Os mesmos (nós). Talvez
esteja na altura de mudar de paradigma, não?
O rendimento agroflorestal condicionado por
fenómenos de “sucção”, governamentalmente protegida, do interior pelo litoral explica
grande parte do êxodo rural incontido no país. Pergunta-se: fará sentido enviar
refugiados e migrantes para um interior despovoado sem atuar sobre as causas desse
despovoamento?
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