quarta-feira, 5 de junho de 2013

O dilema do dr. Ulrich.

O dr. Fernando Ulrich, presidente da Comissão Executiva do BPI e do Conselho de Administração do Banco de Fomento de Angola, insurgiu-se há dias contra o discurso dos governos a favor das PME e não em prol das grandes empresas. Atendendo ao passado do dr. Ulrich até não é de estranhar, pessoal ou familiarmente com ligações a grandes empresas.

Em todo o caso, não devera o dr. Ulrich ficar preocupado com os discursos governamentais, pois se as palavras são em prol das PME, as práticas da governança têm sido extraordinariamente favoráveis às grandes empresas. Atente-se a propósito ao protecionismo do Estado a grandes empresas (antes públicas, agora privadas ou em vias) em setores vitais da Economia, às grandes obras rodoviárias, às ferroviárias a meio gás, às grandes infraestruturas anunciadas (portos e aeroportos) , aos benefícios fiscais de muitos milhões de euros que são concedidos pelo Estado, tudo isto em investimentos que o setor financeiro gosta de financiar, mesmo que depois tenha de recorrer ao apoio dos contribuintes.

Veja-se a propósito o caso no setor florestal, onde ainda há uns dias o governo protagonizou mais um “favor” a uma grande empresa, mesmo sabendo que o mesmo pode causar sérios problemas ambientais, sociais e económicos no futuro próximo e que são as PME que suportam a Economia Florestal. E que, o desaparecimento nos últimos 20 anos de muitas PME de base florestal tem implicado no declínio progressivo da atividade silvícola, na queda do peso do VAB e no decréscimo acentuado do peso do setor silvo-industrial nacional no PIB, mas isso pouco parece importar na hora das decisões.

O próprio BPI, presidido pelo dr. Ulrich, tem protagonizado um controverso desempenho no setor florestal. Se há uns anos atrás esteve envolvido num estudo estratégico sobre o setor, em parceria com uma consultora nacional e uma internacional, mais recentemente envolveu-se diretamente no processo de “desaparecimento” da principal organização nacional representativa dos produtores silvícolas, a Federação dos Produtores Florestais de Portugal – Conselho Nacional da Floresta, ao que consta com um considerável prejuízo para o próprio banco, recentemente objeto de apoio do Estado.