quarta-feira, 15 de maio de 2013

O que nos distingue da atual equipa do MAMAOT?

Na prática, qual a diferença entre política de pacotilha e política de Estado?

A atual estratégia política do Ministério liderado por Assunção Cristas parece ser exclusivamente definida na perspetiva de prestação de vassalagem à "toda poderosa" indústria florestal pesada e, em particular, a uma fileira em concreto, a indústria papeleira. Prontamente aparecem propostas de alteração legislativa para o  fomento do negócio industrial, o lucro sob justificação do valor bruto das exportações. Isto sem a salvaguarda do Interesse Nacional, da sustentabilidade dos recursos naturais, da sustentabilidade económica e do bem estar das populações rurais, no fundo do crescimento da economia florestal em concreto, mas da economia rural e nacional no geral (o peso do setor florestal no Produto Interno Bruto decresce a ritmo acelerado, com o próprio PIB a decrescer).

Foquemo-nos no caso concreto do eucalipto (o glóbulos), a pobre espécie arbórea que é usada na esgrima entre os que a usam financeiramente e os que a querem usar economicamente (esqueçamos para já que os "ambientalistas" também podem estar a ler este texto): 

Na visão de política de pacotilha a estratégia governativa parece prosseguir na senda da valorização exclusiva do negócio da celulose para papel, fomentando uma "campanha do eucalipto" manca, já que desprovida de apoio técnico específico (aos produtores), nem regulação de mercados (amparar o monopólio?), pior sem a salvaguarda da segurança das populações nem do território. O negócio silvícola (leia-se na produção florestal, ou seja o que ocorre até à porta da fábrica) definha, os eucaliptais enfrentam cada vez mais a sorte da crescente ausência de gestão, no fundo o pasto para a propagação dos incêndios e para a proliferação de pragas e de doenças.

Numa visão de Estado, uma equipa ministerial responsável fomentaria (continuamos apenas e só no caso concreto do eucalipto) outros leques de opções produtivas para a espécie (isto para além de assegurar o apoio técnico e a regulação dos mercados já referidos). Elas existem. A opção celulose para papel é apenas uma. Não se vislumbra a opção pela criação de um centro tecnológico da madeira do eucalipto, não se vislumbra o fomento da investigação (de Estado) para outras opções de uso da madeira desta espécie (e estamos focados apenas na perspetiva do uso do bem - madeira de eucalipto, ainda não na fruição de eventuais serviços que os eucaliptais possam prestar).

- Afinal de contas, qual pode ser o papel do eucalipto na redução do défice energético nacional? Pode ou não pode a biomassa proveniente da madeira de eucalipto reduzir as necessidades de importação de carvão mineral, com elevadíssima carga poluente e impacto financeiro para o País?

- Pode ou não pode a madeira de eucalipto ser usada na construção civil ou pela indústria de serração e de mobiliário (indústrias com maior valor económico e social do que a indústria papeleira)?

- Pode ou não pode a celulose obtida da madeira de eucalipto ser usada na produção de biocombustível (produção de bio-etanol), reduzindo a importação de petróleo do exterior?

- Pode ou não pode senhora ministra? Ou continuamos apenas e só na senda da celulose para papel? Dizem alguns, geralmente bem documentados, que com os Ipod, Ipad e cada vez mais Itudo, o papel será cada vez menos usado (talvez salvaguardando o crescimento no mercado asiático - mas outros estão em melhores condições para lá chegar do que o eucalipto português - e o papel higiénico, este para já difícil de ser convertido em Igiéniico).

A economia florestal tem prosseguido o seu caminho de declínio progressivo. Esta equipa ministerial não parece querer / ser capaz de o inverter (e tinha todas as condições para o fazer).

Admitamos por fim que os "ambientalistas" podem ler este texto: todo e qualquer negócio silvícola, seja com base no eucalipto ou noutra qualquer espécie, arbórea ou não, tem de ser perspetivado como negócio inserido na Economia Verde (e rentabilizado como tal), na salvaguarda dos ecossistemas, dos recursos naturais endógenos, do território e das pessoas, sobretudo das populações rurais. A política de pacotilha também não serve neste domínio e este é o fundamental às futuras gerações.