quarta-feira, 18 de junho de 2014

A grande ação



Algumas correções prévias às afirmações da ministra da Agricultura:
  • O setor florestal já representou 3,0% do PIB, mas no ano 2000, em 2010 não passava dos 1,8%;
  • As exportações do setor florestal representam hoje pouco mais de 9% das exportações nacionais, mas já representou 12%;
  • O setor florestal nacional representa hoje menos de 100 mil postos de trabalho, mas no passado já foram diagnosticados 259 mil postos de trabalho.

Assim, mais do que propagandear os números do presente, importa diagnosticar as causas para as quedas registadas face aos números do passado.

Estarão as várias governações a tomar as medidas mais adequadas em matéria de política florestal, de desenvolvimento rural, industrial, ambiental e de ordenamento do território? Pela análise histórica dos vários indicadores disponíveis, parece que não.

Mas, algo mudou nos últimos três anos? Nada, nadinha que mereça o mínimo relevo.

Afirma ainda a ministra da Agricultura que os Portugueses conhecem pouco da riqueza que as florestas podem proporcionar, associando-as geralmente às épocas estivais, aquando dos incêndios florestais. Este é um facto indesmentível, mas o que tem feito a ministra para contrariar este facto?
  • Tem assumido as suas responsabilidades para com aqueles que detêm a esmagadora maioria das superfícies florestais portuguesas?
  • Tem dado o seu contributo para a redução do êxodo rural?
  • Tem assumido posição firme para que sejam ultrapassados os desequilíbrios que há muito têm caraterizado os mercados de produtos florestais?

A mera aposta em ações de propaganda não chega, é preciso mexer nos dossiers difíceis, agitar as águas, pôr em causa os interesses instalados e que têm prejudicado severamente as estatísticas que a ministra tanto gosta de realçar.

É o próprio Ministério da Agricultura que reconhece que, entre 1995 e 2010, as florestas em Portugal registaram uma diminuição da sua área em -4,6%.

O Ministério reconhece ainda que o VAB silvícola em volume registou uma diminuição de 18% em 2011 face ao ano 2000 (média anual -1,8%). Que na evolução do VAB em valor, esta tendência resulta ainda mais acentuada, diminuindo 24,2% na década (média anual de -2,5%), verificando-se, também neste setor, alguma degradação dos preços implícitos no produto.

O Ministério diagnostica ainda que o emprego na silvicultura tem vindo a diminuir na última década: redução de 13,2% de 2000 a 2011 (-1,3% em média anual).

Mais, o Ministério da Agricultura constata ainda que o rendimento do setor, medido pelo rendimento empresarial líquido, tem vindo a diminuir na última década, entre 2000 e 2011, -3,5% em média anual, em resultado da forte degradação dos preços da produção silvícola face ao que se verificou nos preços dos consumos intermédios.

Parece assim que o simples envolvimento de todos não é suficiente. É necessário um envolvimento sério e consequente do próprio Ministério, o inventivo prioritário ao envolvimento dos agricultores, dos proprietários florestais e das populações rurais, designadamente através da contenção do êxodo rural e da criação de condições (equilíbrio dos mercados) para que nas florestas se gerem negócios sustentados economicamente, sustentáveis ambientalmente e socialmente responsáveis.

Os Portugueses já estão demasiado envolvidos nos problemas que o Poder Político não quer, ou não consegue conter. Seja ao assumir os encargos anuais com os incêndios florestais, seja ao contribuir para apoios às florestas que não lhes aportam retorno económico, social ou ambiental, como infelizmente comprovam os resultados obtidos com os apoios da PAC e dos vários OE às florestas nos últimos 28 anos.

Talvez a grande ação a que a ministra faz referência, não seja a grande ação que o país necessita.