segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Sobre o artigo de opinião de João M.A. Soares no Negócios

A análise que se pretende aqui fazer sobre o artigo de opinião, publicado no Jornal de Negócios a 9 de agosto último, da autoria de João M. A. Soares, não é sobre o conteúdo do mesmo, mas relativamente aos que apoiam a tese exposta.

Efetivamente, é de confessar a dúvida sobre onde os mesmos podem ser classificados. Centremo-nos apenas no aspeto mercantil.

- Se no domínio de uma oferta responsável (de rolaria de madeira de eucalipto para pasta e papel), necessariamente sujeita a uma gestão florestal sustentável, seria expetável que assumissem, no mínimo, uma postura de desconfiança face ao alastrar de uma oferta de risco, potenciada pelo Regime Jurídico das Ações de Arborização e Rearborização (RJAAR). Tanto mais que esse alastramento, a breve trecho, irá ter impacto negativo nos preços pagos à oferta (no seu conjunto). Nem mesmo a certificação florestal poderá vir a marcar a diferença. Se a oferta responsável está mais inserida em processos de certificação de grupo, na maioria dos casos exclusivamente suportados pelos aderentes, estes tendem a assistir à certificação da oferta de risco, agora através de processos de certificação regional e cofinanciada por todos nós. Assim, se poderiam manter uma aposta num diferencial de preço, entre os dois tipos de oferta, através da certificação florestal, esta poderá nem vir a existir. Uma coisa é certa, maior oferta, menor preço. Bom, a menos que se aposte no facto de que a oferta de risco, por esse facto, é muito mais suscetível aos incêndios, às pragas e às doenças. Todavia, essa aposta é, em si, de elevado risco; controla o fluxo da oferta, mas tem avultados inconvenientes, muitos deles tendem a recair também sobre a oferta responsável.

- Se no âmbito dos acionistas ou dos funcionários abrangidos pela procura, a sua posição é fácil de entender, maior a oferta, seja ela de que tipo for, maiores possibilidades de perpetuar os preços baixos à oferta, maiores lucros, maiores dividendos, talvez melhores salários.

Uma posição intermédia pode ser suscetível de comentários menos abonatórios. As más línguas podem acusar estes intervenientes de estarem a soldo da procura para garantirem o controlo de ímpetos reivindicativos de preço por parte da oferta. Já se viu muito disso por cá! Os controleiros.

Em todo o caso, existe uma outra posição, mas esta não aprecia nada o texto em causa. A dos que pagam as disfunções existentes entre uma oferta pulverizada, excessivamente desorganizada comercialmente, e uma procura concentrada, desreguladamente concentrada e politicamente protegida. Ou seja, os que veem este negócio suportado, não a dois, mas em três pilares, o da oferta, o da procura e o do bem comum. Este último pilar não suporta mais o ciclo anual de catástrofes estivais, onde, do total do que arde em povoamentos florestais, 50% arde em plantações de eucalipto. Não suporta mais campanhas de desvalorização do território, de empobrecimento e de aumento dos riscos para as populações, sobretudo em meio rural.

Irresponsabilidade, vergonha e crime é manter um pseudo-feudalismo salazarento (de “industriais” protegidos), apesar dos muitos vassalos em sua defesa.

Nota final: Sem querer ferir o ego do autor do artigo de opinião em apreço, importa corrigir o facto de não ter sido ele o “primeiro Secretário de Estado das Florestas de um Governo Constitucional”. Mau serviço do jornal do grupo Cofina na revisão do texto. Reza a história que o primeiro Secretário de Estado das Florestas de um Governo Constitucional foi um docente do Instituto Superior de Agronomia, que deu aliás nome a um dos seus edifícios, o que não acontece com o autor. O facto é facilmente comprovado no portal do Governo, no Arquivo Histórico.


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