quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Do ócio ao negócio.

O significado de ócio está associado à inatividade, embora não necessariamente à vadiagem como é vulgar catalogar. Em todo o caso, no domínio florestal, a inatividade na gestão de uma propriedade é identificada como absentismo.

O absentismo pode decorrer do mero desinteresse pessoal, o indivíduo não sente o "apelo da terra", mantém a posse apenas por um apego meramente sentimental, ou pode estar relacionado à falta de expectativas financeiras, associada à ausência de formação ou suporte técnico quando fornecido por terceiros. O absentismo pode ser ou não presencial, ou seja, o detentor ou gestor da propriedade rústica pode estar presente na exploração, ou residir a distâncias consideráveis da mesma. Em todo o caso, não gere adequadamente ou não delega a terceiros a gestão das suas superfícies arborizadas, isto é, não realiza ou manda realizar um conjunto de operações silvícolas, consideradas mínimas, quanto mais não seja para a prevenção de riscos.

A ausência de gestão, ou a não gestão, pode então resultar de uma mera atitude ociosa, mas pode também ser a adaptação à ausência de perspetivas para a negação do ócio. Para quê ter despesa, ou realizar uma aplicação de capital, se o resultado líquido dessa aplicação pode ser inexpressivo  nulo ou mesmo negativo?

Face à atual situação de sobre-exploração e de subaproveitamento dos recursos florestais em Portugal, importa criar penalizações para o ócio meramente sentimental, mas é essencial que se criem condições que viabilizem uma gestão florestal ativa e preferencialmente certificada.

Parece contudo óbvio que, para ser possível uma gestão ativa e sustentável das florestas em Portugal, é necessário criar medidas claras para a negação do ócio, o que não é mais do proporcionar condições para o negócio.

Sem negócio associado às florestas, dificilmente se conseguirá salvaguardar a proteção de todos os recursos naturais que lhes estão associados, nem contribuir para o combate à migração de populações do interior para o litoral, ou mesmo para o exterior.

Em todo o caso, é fundamental ter uma visão ampla do negócio que possa ser proporcionado pelos espaços florestais, associando-o não apenas aos tradicionais bens, hoje com valor de mercado, mas igualmente a outros que o tiveram e por razões conjunturais viram o seu valor diminuído, mas sobretudo aos potenciais bens e serviços ainda intangíveis. É assim determinante que se aposte na qualificação e qualificação destes últimos, como sejam a paisagem, a conservação dos solos, a qualidade da água. O negócio florestal será cada vez mais determinado por este mix de proveitos.

Para proporcionar o negócio silvícola, sobretudo em minifúndio, importa ainda reforçar as medidas e os instrumentos que permitam viabilizar a gestão florestal independentemente da posse da terra.